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Ìyá: O Alicerce da existência material e espiritual na Cultura Yorùbá


Dentro da cosmovisão Yorùbá, a figura da mãe, ìyá, transcende a mera função biológica de gerar vida. Ela é o próprio alicerce sobre o qual se constrói a existência, tanto no plano tangível quanto no reino espiritual. A importância da ìyá permeia todos os aspectos da vida Yorùbá, desde a estrutura familiar até a intrincada rede de crenças e práticas religiosas.

No domínio material, a ìyá é reverenciada como a fonte primária da vida. Ela é aquela que carrega, nutre e traz ao mundo os novos membros da comunidade. O ato do parto é visto não apenas como um evento físico, mas como uma manifestação do poder criativo inerente à mulher. A dedicação e o sacrifício da mãe na criação dos filhos são imensuráveis e a ela é devido profundo respeito e gratidão ao longo de toda a vida. Os provérbios Yorùbá ecoam essa veneração, ressaltando a insubstituível posição da mãe no seio familiar e na sociedade. A estabilidade e a continuidade da linhagem dependem fundamentalmente da ìyá.

Entretanto, a importância da ìyá na cultura Yorùbá se estende muito além do plano material, alcançando as profundezas do reino espiritual. Acredita-se que as mulheres, particularmente aquelas que já passaram pela experiência da maternidade e alcançaram a maturidade, possuem uma conexão especial com as forças primordiais da criação e com o poder místico conhecido como àjé. Esse poder não é inerentemente malévolo, mas sim uma força vital que pode ser utilizada para o bem-estar da comunidade, para a proteção dos filhos e para a manutenção da ordem cósmica. O respeito e a deferência para com as ìyá àgbà (mulheres mais velhas) são cruciais, pois sua sabedoria e seu potencial espiritual são considerados essenciais para a harmonia e o equilíbrio da sociedade.

No panteão Yorùbá, diversas Òrìṣà femininas personificam aspectos cruciais da maternidade e do poder feminino. Yemọja, associada ao rio Ògùn e à fertilidade, é vista como a mãe de muitos Òrìṣàs, representando a fonte da vida e a nutrição primordial. Ọ̀ṣun, a divindade do amor, da beleza e da prosperidade, também está intimamente ligada à fertilidade e à maternidade, emanando a doçura e a força generativa. Ọya, com sua energia dinâmica e de transmutação, simboliza a capacidade de gerar mudanças e renovar a vida. Essas divindades femininas são cultuadas e reverenciadas, reconhecendo-se seu papel fundamental na criação e na sustentação do universo que conhecemos.

O festival Gelede é uma celebração específica que demonstra a profunda reverência pelas “mães” (àwọn ìyá) em um sentido amplo, englobando tanto as mães biológicas quanto as mulheres com poder espiritual significativo. As máscaras e as danças rituais buscam honrar e apaziguar esses poderes femininos, garantindo a continuidade da vida, a fertilidade da terra e o bem-estar da comunidade. A participação de pares de dançarinos, muitas vezes representando a interação entre o masculino e o feminino, sublinha a importância do papel da mulher na criação e na manutenção deste equilíbrio.

Na cultura Yorùbá, a ìyá é muito mais do que uma genitora. Ela é um pilar fundamental da existência material e espiritual, uma fonte de vida, sabedoria e poder. O respeito e a honra dedicados às mães em todas as fases da vida refletem a profunda compreensão de seu papel insubstituível na continuidade da linhagem, na estabilidade social e na manutenção da harmonia com o reino espiritual. A ìyá é verdadeiramente o alicerce sobre o qual a cultura Yorùbá se sustenta e prospera.

Foto de Marcelo Alban

Marcelo Alban

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Sobre Mim

Marcelo Alban começou a desenvolver a sua espiritualidade desde a infância. Nasceu em um berço espiritualista onde foi caminhando nos estudos e se aprofundado na história das religiões e da alta magia. 

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